Desenvolvimento sustentável: paradoxos e contradições. Em busca de um design ecocêntrico

Trata-se de problematizar a expressão “desenvolvimento sustentável” e um tipo de “design ecológico” antropocêntrico que a ela se vincula. O conceito de desenvolvimento possui uma raiz econômica vinculado à idéia de progresso aliado à promoção de um bem-estar para o homem. É um conceito essencialmente antropocêntrico, pois toma o homem como fim e a Natureza como meio ou instrumento. O conceito de sustentável, ao contrário, tem raiz ecológica e está ligado aos movimentos ambientalistas contestatários. Trata-se de um conceito ecocêntrico. O conceito de desenvolvimento, herdeiro da noção de progresso, implica em movimento e acúmulo. Ao contrário, o conceito de sustentabilidade implica em ordem, que não é estática, mas dinâmica, porém essencialmente distributiva e contrária a qualquer tipo de acúmulo. O design ecológico deve tornar-se crítico e ecocêntrico para cumprir seu papel histórico de reconciliar homem e Natureza, preservando a vida em sua dinâmica como um valor em si.

2º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável

http://portal.anhembi.br/sbds/anais/SBDS2009-020.pdf

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2 Replies to “Desenvolvimento sustentável: paradoxos e contradições. Em busca de um design ecocêntrico”

  1. Nacir Sales,
    Caro amigo, concordo inteiramente com o seu comentário. Em nosso momento histórico, ou possível-histórico, no Brasil, o melhor a fazer é nos unir em torno de uma linha verde ou frente verde. Com o passar do tempo, conquistas e amadurecimento, as grandes diferenças sobre a questão ecológica poderão aí sim surgir. E com um pouco mais de tempo as pequenas diferenças poderão tornar-se significativas de visões, soluções e formas de compreender a questão ecológica. Então um debate maduro e efetivo poderá surgir. No entanto, mesmo hoje, devemos permanecer muito críticos em relação à pseudo-ecologia ou a “ecologia de embalagem” na sua feliz expressão. Também continuo muito crítico e descrente de uma certa tecnocracia ecológica que acredita que as únicas soluções possíveis são de natureza científica, desprezando, culturas e formas de habitar locais que possuem um profundo conhecimento e estabeleceram modos não predatórios de se relacionar com a natureza. Sigo o princípio de que “Nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo modelo mental que o crio”. A crise ecológica, sem dúvida, tem raízes metafísicas que se expressa numa forma de se relacionar com o Ser que é exatamente o modelo de certa ciência: compreender para dominar, prever para dominar. Concordo com você a solução passa necessariamente pela filosofia, não a que é produzida nos departamentos das universidades, mas uma outra que está por ser construída. Grande abraço. Seria uma honra segui-lo no Twitter. Meu endereço é @EduardoCBraga. Obrigado.

  2. Eduardo Braga,
    A Ecologia Superficial (Naess 1973, 1984, 1989, 1998) hoje poderia ser rebatizada de Ecologia da Embalagem: estaciona nesta superfície.
    O leitor poderia diminuir o que é amplo perguntando em alto som: para que serve todo este debate? Estaríamos lidando com um leitor/desconstrutor. O preciosismo da linguagem parace inútil mas é útil. Explico: na prática, na ação ecológica, celebramos pactos semânticos sem o qual torna-se impossível a comunicação e, portanto, qualquer ação. Assim, uma linha verde nivela a tudo e a todos, embora sejamos todos titulares de crenças e descrenças das mais diversas, das antoprocentricas às ecocentricas. Mas, creio, a convivência se estabelece em parte pela convergência de objetivos e em parte por ignorância mesmo (ignorância das divergências). É cômico mas é o quadro atual. Absurdas são as distâncias entre o egocentrico e o ecocentrico, mas mesmo estas distâncias absurdas desaparecem quando niveladas pela linha verde, uma linha invisível porém verde. A tensão permanente entre os dois termos (desenvolvimento e sustentável)pertencentes a universos distintos, trava uma batalha lógica/estrutural mas também cultural/comportamental. Afinal o que predominará? A natureza tratada como ambiente para o homem? O homem tratado como elemento da natureza?
    Paradoxalmente, creio que a tensão terá fim onde teve o seu início: na filosofia, daí a importancia real do debate.
    O início deu-se no relativismo, com o divórcio do homem do seu mundo extra-homem. O relativismo proclamou o homem como a medida de todas as coisas: tudo é relativo, ao homem, quis Protágoras. Desse divórcio resultou no desenvolvimento para o homem e a natureza se converteu em recursos ditos naturais. A história se desenvolveu e o próprio homem se tornou recurso disponivel para si mesmo no canibalismo antropofágico: chegamos às cátedras de RH, uma “ciência”!
    Identificado o marco zero deste divórcio, desta escolha que deu-se em foros da filosofia, creio eu que é tarefa filosófica provocar o acoplamento não entre crescimento e sustentabilidade, mas entre homem e à sua natureza, à natureza à qual pertence. Mas ai alguém dirá: mas isso nada mais é que ecologia profunda? Sim, mas a tarefa não é reiventar a ecologia profunda, mas trazê-la à superfície, à luz, ao oxigênio!
    Para finalizar uma pergunta por demais filosófica: vamos nos seguir no Twitter?

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